segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Pastor e seu brilho

Hoje pretendo escrever um pouco sobre o "Pastor". Segundo o Dicionário Aurélio, este substantivo tanto pode ser aplicado a um guardador de gado, como a um guardião ou mentor espiritual - incluindo os obreiros protestantes. Portanto; este termo tanto se aplica aos que cuidam dos rebanhos quadrúpedes; como também a quem cuida do rebanho do Senhor.

No Brasil, é costume tratar por "Doutor": Advogados, Engenheiros, Médicos, etc. Em assim sendo, em cartões de apresentação e placas, geralmente aparece abreviatura "Dr". E este mesmo tratamento se dá ao Pastor; o qual tem o "Pr" a anteceder o nome. Na vida de muitos, o termo se juntou ao seu prenome, sem o qual jamais são tratados - a não ser pelos familiares e pessoas muito íntimas.

Nesta reflexão, pretendo utilizar o recurso da aliteração; com o intuito de chamar a atenção para três palavras que tem uma relação direta com o ministério pastoral. E estas três palavras têm, como letras iniciais o "Pr" (abreviatura de Pastor). São elas: Presença, Propósito e Providência. As mesmas representam uma espécie de tripé de sustentação do ministério pastoral.

Elas tanto têm relação direta com o Deus que chama e capacita homens para o ministério; como também, identificam o nível de responsabilidade de um pastor, cujo ministério pastoral é voltado para o cuidado e bem estar do rebanho sob seus cuidados. Vejamos então a sua importância no desempenho da missão pastoral:

Presença

Um pastor, para ser bem-sucedido em seu ministério, precisa estar sempre na presença de Deus. É esta gloriosa Presença que traz brilho à sua face e ao seu trabalho pastoral. Um extraordinário testemunho a este respeito, é aquele em que a Palavra de Deus relata que "Quando Moisés desceu do monte Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas do testemunho, sim, quando desceu do monte, Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, por haver Deus falado com ele" (Êxodo 34.29).

E este brilho, resultante do fato de Deus falar conosco, precisa resplandecer aos olhos daqueles com quem convivemos em nosso dia-a-dia. O próprio Jesus demonstra a importância deste brilho, quando nos exorta: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus" (Mateus 5.16). E na verdade, não existe a menor chance de obtermos este brilho sobrenatural; sem que estejamos na presença de Deus, ouvindo a Sua voz.

Propósito

Ao estudamos sobre o propósito de Deus na Bíblia, nos enriquecemos com o testemunho de Jó; o qual já se tem, inclusive, inspirado belas canções: "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido" (Jó 42.2). Na verdade, todo pastor precisa entender que o propósito de Deus deve ser levado na mais alta conta. A própria Bíblia nos ensina que o divino propósito agrega valor às demais coisas em nossa vida. Pastor algum, por mais habilidoso e carismático que seja, conseguirá sair-se bem em sua missão - caso comece a se afastar do propósito de Deus para com sua vida.

Durante os meus 43 anos de ministério, observei pastores que começaram muito bem a sua carreira ministerial - dedicando-se com zelo e amor em prol das vidas à si confiadas. Entretanto, alguns deles, deixando-se influenciar pelos cuidados e influências deste mundo, acabaram por perder o brilho de Deus em suas vidas; a ponto de se divorciarem do propósito do Senhor. E a partir daí, tornaram-se frios e indiferentes - cada vez mais distantes de sua missão - tornando-se apenas profissionais do púlpito.

Um bom antídoto contra este mal é manter os olhos postos na Palavra de Deus. O Apóstolo Pedro nos exorta a sermos bons pastores, exortando: "Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontâneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória" (1 Pedro 5.2-4).

Um fato ainda mais grave: Alguns desses pastores começam a enveredar pela senda do pecado. A princípio, por descuido, enredando-se em laços que o inimigo preparou para apanhá-los. Mas, com o passar do tempo, foram submergindo no lodaçal do pecado - tornando-se contradizentes. "Prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção; porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito escravo" (2 Pedro 2.19).

Nunca nos esqueçamos que o nosso Deus tem em alta conta o Seu Propósito. Jamais transigirá ou abrirá mão dele! Ouçamos o que Ele mesmo diz quanto a isso: "Chamando do oriente uma ave de rapina, e dum país remoto o homem do meu conselho; sim, eu o disse, e eu o cumprirei; formei esse propósito, e também o executarei" (Isaías 46.11). Portanto, não é errado supor que o homem de Deus que intentar contra o propósito do Senhor, irá sofrer consequências desastrosas!

Providência

Esta é uma das coisas que aprendi muito cedo em meu ministério pastoral: A depender plenamente do Senhor. Sou grato a Deus por ter sido discipulado em uma escola de ministério que não previa salário determinado, plano de saúde, igreja próspera e outras vantagens. Fomos ensinados a viver exclusivamente daquilo que o rebanho pudesse nos oferecer. Ou seja: vivíamos do nosso próprio trabalho. E foi um ótimo tempo - do qual tenho saudades! Celia e eu, em muitas ocasiões, oramos na noite anterior pelo pão do dia seguinte. E o nosso Deus sempre entrou com providência! Foram tempos difíceis... Mas crescemos e amadurecemos com isso.

Algo que sempre me abate; é quando percebo pastores que já nem conseguem esconder que estão no ministério apenas pelo salário que recebem. E como são bons em cobrar subsídios atrasados! Chego a pensar que alguns desses são até mesmo capazes de acionar a Igreja do Senhor na justiça do trabalho, em busca dos seus "direitos". Enquanto isso, seu rebanho vai definhando - tornando-se empobrecido e incapaz de sustentar um obreiro que só pensa em si mesmo. Lamentável! O fim dos que assim procedem será sempre humilhante e doloroso; pois, o acerto de contas com Deus é sempre no "final do dia".

Quando um homem de Deus vagueia longe de Sua Presença e do Seu Propósito, acaba também por se distanciar de Sua Providência. E a partir daí, começa a depender da fidelidade de outros obreiros para sobreviver. Sem condições de ser mantido por seu rebanho, devido a falta de providência de Deus; começa então a exigir ser mantido mediante o trabalho próspero daqueles que estão produzindo. E estes últimos precisam então produzir dobrado: Tanto para si mesmos como para aqueles que não conseguem se firmar sobre as promessas do Deus da Providência.

Conclusão

Todavia, sou o primeiro a reconhecer a justa necessidade de alguns pastores; de receberem ajuda externa. Sim! Eles necessitam de amorosa ajuda, devido ao fato de estarem em trabalho pioneiro ou deficitário. E devem mesmo ser ajudados! Entretanto, olho com preocupação o fato de existirem pastores vivendo nesse estado de carência a muito tempo. É como se tivessem se acomodado a uma situação de dependência crônica.

E os que se encontram nesse estado, precisam tomar uma atitude e reagir com fé - buscando em Deus - e de Deus - os meios para que seu ministério seja próspero. Por experiência própria, posso garantir que se um pastor buscar a Presença de Deus continuamente - e andar segundo o seu divino propósito - vivendo dependente da Sua Providência; os recursos vão se multiplicar e tudo irá mudar em sua vida. Disso tenho absoluta certeza!

Cordialmente;
Bispo Calegari

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